quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O chamado

Como se procura por alguma coisa já tendo encontrado ela? Me sinto assim muitas vezes. E o pior é que quanto mais procuro outra coisa mais forte se torna o que sinto, um rosto que me segue para todo lugar onde eu vou, acompanhado por um sentimento difícil de explicar. Na mitologia nórdica dizem que cada vida é um fio oriundo de Yggdrasill, a Árvore da Vida, depois esses fios são tecidos pelas Nornas, fiandeiras que controlam o destino dos homens. Muitas vezes dois fios se entrelaçam, seja por artimanha ou destino, e quando isso acontece o fio se torna um só, o caminho de duas pessoas se cruza, às vezes apenas por algum tempo, mas outras vezes para sempre. Agora o destino chega a mim como um chamado, pedindo para eu confiar nele, que tudo vai dar certo no final. A impressão é que esse chamado sempre esteve presente desde que os fios se aproximaram um do outro, ainda que na época eu não desse ouvidos a ele, talvez por ser cedo demais, e só o que eu sentia era uma sensação estranha de perda quando o destino começou a divergir do seu caminho. Mas e se tudo não passar de uma artimanha? Porque pode ser que os percalços sejam placas de aviso no ínicio de uma estrada perigosa por onde ninguém deveria passar. Mas como se livrar disso sem negar que o destino verdadeiro se realize? Porque pode ser que não seja uma artimanha e os percalços no caminho sejam apenas superficiais. Às vezes enxergo sinais que o chamado é verdadeiro, que não é algo exclusivo meu, e então um fogo acende dentro de mim, queimando todo obstáculo no caminho. Porque se for o caso é exatamente assim que eu agiria, afinal, conceitos místicos à parte, o chamado sou eu, minha chama interna, meu orgulho, o viking que não conhece obstáculos. Pode ser para pilhar uma cidade, roubar uma mulher, tanto faz. Por outro lado, o viking é apenas uma fantasia, porque o mundo não funciona mais assim e nem deveria. A verdade é que não tenho como saber se o chamado é unilateral como muitas vezes parece ser, mas também não descarto a possibilidade do chamado ser verdadeiro e da outra parte simplesmente não dar ouvidos a ele, como eu não o fiz por muito tempo. Mas não é do feitio dos homens interpretar o destino. Tudo o que eu posso fazer é confiar em mim, naquilo que sinto, naquilo que vejo, e que no final só os deuses sabem a resposta.

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