sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Silêncio

Toda vez que eu deito sozinho no meu quarto que mais parece uma prisão o vazio toma conta de mim, e quando isso acontece eu consigo ouvir o silêncio, que nada mais é que minha própria solidão. Então permaneço deitado, sentindo absolutamente nada. O vampiro se apodera de mim toda noite, mas ele não ataca durante a noite, e sim quando eu acordo no outro dia. Ele está desesperado por contato humano, independente da limitação desse contato, então ele suga a vida de quem enxerga pela frente, tentando preencher seu silêncio. Mas a pessoa absorvida não sai ferida, de fato ela sequer enfraquece; muito pelo contrário, ela sai fortalecida. Porque o vazio do vampiro é um espelho para elas, onde podem enxergar suas almas, o que causa atração e ao mesmo tempo distanciamento, afinal toda pessoa tanto se ama quanto se odeia. Mas por um breve momento o silêncio do vampiro é preenchido por vida, não pela sua, porém ainda é uma alternativa melhor do que o vazio. Então chega a noite e com ela o silêncio, e por um breve momento antes do vampiro tomar conta de mim mais uma vez, quando sinto aquela vida que não é minha abandonar meu corpo, fico apavorado ao descobrir que estou morto por dentro. Algo se partiu lá atrás, não lembro bem quando, algo que não tenho como recuperar. O vampiro fez essa vítima, ele matou alguém sem que eu sequer percebesse, então o silêncio toma conta de mim quando descubro que esse alguém sou eu. Toda noite ele faz de mim sua vítima, e durante o dia ele apenas se fortalece, dando minha vida em troca da vida dos outros, tudo premeditado para tirar outro pedaço de mim quando a noite chega; outro pedaço de sua única vítima. Agora estou tomado pelo vazio e completamente apavorado. Estou morto por dentro. Deus me ajude, estou morto por dentro.

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