Mor certamente era uma figura. Na infância, costumava viajar por todos as aldeias e cidades próximas de seu lar, o vilarejo hobbit, pois seus pais, mercadores de produtos típicos de sua raça, como arcos pequenos e brinquedos simples e divertidos, faziam negócios de Cronisia a Naer’thi. Naquela época, o pequeno Mor passou a admirar os nobres e altivos guardas de Cronisia, sonhando em ser como eles quando crescesse, mas seu interesse por esse tipo de vida talvez tenha sido influência de seu velho pai, uma vez que ele fora capitão do único exército que já existiu em Habut. Ainda assim, tudo correu bem durante a maior parte de sua infância, porém, quando estava na porta da adolescência e começou a perguntar à sua amada mãe, uma bondosa e insatisfeita mulher de família, porque nunca ficaria do tamanho dos reluzentes soldados que tanto admirava, ela não sabia o que responder, apenas dizendo que Mor era grande o suficiente para um hobbit. Entretanto, esta resposta o satisfez até a vida adulta, quando, após uma juventude feliz e comum, ele enfim alistou-se à guarda de Habut, embora soubesse que aquilo não era nada perto da guarda de Cronisia, acostumada a repelir os orcs do Vale dos Intrépidos de volta para Dar’Arlicha. Anos depois, ao completar 23, Mor conheceu aquela que seria sua esposa, uma hobbit chamada Marta, e ela dizia vir de um lugar distante, onde os outros de sua raça eram apenas fanfarrões e desocupados; e aquilo soou estranho nos ouvidos do impetuoso e energético Mor, pois sua personalidade forte o tornara cético e desconfiado. De qualquer forma, enquanto se encantava cada vez com os mistérios de Marta, treinava sozinho na sede da guarda da cidade, já que os outros soldados preferiam comer e beber ao invés de aperfeiçoarem-se. Então, dois anos depois e já com o corpo que considerava forte o bastante para galantear a jovem estrangeira, Mor a pediu em casamento, e, para seu alívio e surpresa, ela aceitou, mas não pelo corpo do noivo, e sim por ele ser o único na conservadora cidade a mirá-la nos olhos, embora o orgulhoso Mor achasse ser pelo outro motivo. E o casamento foi ótimo no início, pois os dois completavam um ao outro; Marta era sensível e educada, sempre controlando os excessos do marido temperamental, e Mor, por ser indiscreto e desinibido, ajudou a esposa a sair da concha e fazer mais parte do dia a dia de Habut. Porém, a relação dos dois decaiu muito nos meses seguintes, e praticamente no mesmo momento em que Marta começou a sentir falta de seu antigo lar, Mor passou a freqüentar a sede da guarda cada vez mais, tentando assim diminuir a infelicidade da esposa da única forma que conseguia conceber. Mas não deu certo, e a triste situação chegou ao limite certo dia, quando os gritos de uma ardorosa briga entre eles acordou a cidade inteira: tudo começou porque Mor voltou tarde para casa e encontrou Marta chorando num canto, e ela segurava na mão o único objeto que trouxera de casa, um minúsculo boneco de um hobbit pequeno e fraco. Mor ficou um longo tempo observando aquela cena, e sentia um ódio amargo dominar seu peito, pois a visão do brinquedo o fazia lembrar do quanto ele mesmo era pequeno e fraco, por mais que tentasse ser grande como vira um dia seu pai ser. Entrementes, Marta enfim levantou a cabeça e o viu, mas somente lutou inutilmente para tentar impedi-lo de destruir o boneco. E aquilo foi à gota d’água para ela, que na seqüência acusou-o de nunca estar em casa e de ser um marido incapaz de lhe dar filhos. Ele respondeu com um tapa. “Você é igual a minha mãe!”, gritou Mor, espumando de raiva. “Você não vai me convencer a ser pequeno!”, insistia ele. Enquanto isso, Marta começava a chorar no chão, mas de repente parou; então ficou de pé, e em seguida começou a rir, fazendo Mor recuar aos tropeços. “Olhe para você”, disse ela avançando e empurrando-o para trás. “Você não é pequeno”, continuou Marta num tom agressivo. “Você é minúsculo. Você é menor que o boneco que acaba de destruir. As crianças riem de você e as mulheres o esnobam, pequeno Mor”. Então ele caiu no chão, assustado. “Fique longe de mim, maldita”, bradou. “Cale-se”, zombou Marta. “Você é patético. Saia daqui rastejando como um verme e diga para seus amigos que foi expulso de casa por sua própria esposa, a pobre e indefesa Marta”. E foi assim que Mor saiu de casa, expulso a chutes por uma frágil mulher. Ele acabou passando a noite na rua, como um cão raivoso proibido de dormir dentro do lar. Mas o dia seguinte nasceu belo, parecendo zombar da situação humilhante, e Mor acordou antes de todos, pois viu uma linda carroça dourada subir estrada adentro. A carroça parou logo depois, e uma figura encapuzada, com ares de nobreza, saiu de dentro da condução e pediu para seus lacaios cravarem uma chamativa placa no chão. Em seguida, todos voltaram para dentro da carroça e saíram a toda velocidade, como se ali nunca tivessem estado. Curioso, Mor aproximou-se da placa quando começou a ouvir movimentação dentro das tocas próximas, e então leu depressa: “Chamada geral para os melhores homens de Habut se apresentarem no portão da fortaleza da Sociedade, onde aqueles do reino de Inera com maior disposição serão colocados contra nossas melhores guerreiras, em uma espécie de duelo não-mortal para decidir apenas uma vaga entre nossa valorosa e exigente organização. Os interessados que se apresentem antes do fim da tarde. Assinado por Atma & Alexandra.”, era a escrita na placa, em caligrafia bonita e trabalhada. Agindo sem pensar, o hobbit arrancou a placa do chão e depois a atirou num lago fora da cidade, perto do Largo das Tempestades. Aquela poderia ser a oportunidade para ele mostrar todo o valor, pensou, e não deixaria os hobbits preguiçosos de Habut tirarem isso dele, nem muito menos sua esposa ingrata. “Sim, eu vou ser o escolhido e depois a Marta vai implorar para voltar para mim”, murmurava Mor baixinho enquanto ria, pois a tal organização tratava-se sem dúvida da Sociedade das Rosas de Fogo, a maior fonte de renda de seus pais. Então, antes mesmo do final da tarde, Mor voltou à cidade e pegou sua espada longa e armadura na sede da guarda, e na seqüência saiu correndo em disparada, chegando na fortaleza em cima da hora. E, à primeira vista, enxergou apenas um pavilhão armado em frente ao portão e um grande grupo de homens ao redor, e dentro da enorme tenda havia um pequeno ringue cavado no chão, onde um dos desafiantes olhava ansioso para duas figuras de capuz sentadas em cadeiras luxuosas. A noite acabou chegando rápido, pois nenhum dos homens, nem mesmo os mais fortes, duravam mais do que alguns segundos contra as guerreiras, que se revezavam na arena, e Mor apenas os observava cair, apesar de ser alvo de riso da maioria dos lutadores. Entretanto, quando chegou sua vez, após todos os desafiantes serem rechaçados e ficarem gemendo de dor num canto, ele se adiantou das visivelmente decepcionadas guerreiras e disse seu nome, mas adicionou “O Gigante” no final, e ainda por cima recusou-se a descer no fosso. “Eu não vou descer aí para ser avaliado com um cão”, disse sorrindo, e as duas olharam-se incrédulas com a ousadia do pequeno hobbit. “Venham até mim, se quiserem testar-me, mas venham as duas”, desafiou o corajoso Mor, porém, as duas caíram na risada. “Pois bem, como quiser, pequeno mestre”, concordou uma delas, ficando séria de repente. Então as duas, exibindo grande habilidade, deram um grande salto por cima da arena e cada uma caiu de um lado de Mor, flanqueando-o como lobos famintos. “Apenas me diga uma coisa, pequenino”, disse a outra, “Tem certeza que consegue segurar uma espada tão grande?”, provocou ela, deixando o hobbit furioso, mas ele manteve a calma e sorriu sarcasticamente. “Eu lhe respondo, senhora”, disse Mor num tom provocador, “Mas apenas se me disser porque esconde o rosto...”, desafiou ele, e subitamente elas pararam de avançar. “Seria para esconder uma face medonha demais para ser exposta?”, perguntou Mor maldosamente, mas na seqüência desejou não o ter feito, pois as duas ficaram furiosas e avançaram sobre ele, revelando cada uma duas espadas curtas debaixo dos compridos mantos; o hobbit mal conseguiu defender-se, acabando com dois arranhões profundos no tronco. Em seguida, tentou atacar com sua espada longa, mas errou feio e acabou pagando pela arrogância de não usar um escudo. Felizmente, as duas haviam recebido ordens para não matar, e somente derrubaram-no no chão com golpes limpos. “Fique no chão que é o seu lugar, cão”, disseram as duas ao mesmo tempo, e depois o atiraram dentro do fosso e saíram rindo. “Eu disse para Atma que não havia motivo para um teste deste tipo, porque não há sequer um homem de verdade por estas bandas”. Porém, um rosnado alto interrompeu a conversa das duas, e as temidas guerreiras olharam para trás, como se temessem a presença de worgs ou algo do tipo, mas viram apenas um pequeno vulto saltar de dentro do túnel e passar correndo por entre elas. E elas até tentaram atacar a sombra viva que as atacou, mas a criatura era rápida para ser atingida, e seus uivos selvagens tirariam a concentração do mais bravo paladino. Por fim, passado um tempo deveras humilhante para ambas as moças, foi o audacioso ser que acabou prevalecendo, pois acabou derrubando as duas depois de muitos golpes poderosos e velozes de espada, somente para no final revelar ser ninguém menos que Mor, o Gigante, espumando de raiva num ataque suicida. “Veja só”, disse uma delas após levantar e rechaçá-lo com facilidade no final do surto, “Parece que eu estava enganada”, concluiu. “Vamos, pequeno mestre, siga-nos e aproveite da bondade de nossas senhoras”, disse a outra, “Você acaba de tirar a sorte grande”. “É”, disse Mor num tom estranho enquanto ultrapassava o portão e vislumbrava a bela fortaleza, “Parece que sim”, resmungou.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Albaria: Primeiro PC
Abaixo segue o primeiro background, ou origem, que eu escrevi para o Albaria. Foi por volta de 2005 e saiu um pouco grande. É sobre um halfling chamado Mor:
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