quinta-feira, 26 de julho de 2007

Sonhos aventurescos...

Uma noite dessas eu tive um sonho estranho. Começou com uma batalha aérea, onde bizarras máquinas de guerra sobrevoavam um platô, escondido entre um desfiladeiro rochoso e ladeado por um grande lago, que por sua vez era interrompido pela encosta de um vulcão na outra extremidade da margem. Os maquinários surgiam do meio desse lago e flutuavam na direção de uma série de cavernas na montanha, onde habitava um povo de feições bárbaras. As naves invasoras eram manuseadas por estranhos seres parecidos com humanos, mas com a pele azulada, guelras e olhos negros sem pálpebras. Não demorei a perceber que se tratava de uma raça Atlante ou algo parecido. Aos poucos também notei que os mecanismos adotados por eles tinham uma tecnologia similar a nossos balões e zeppelins, e eram controlados por uma complexa combinação de alavancas. A guerra iniciou quando os invadidos deixaram suas tocas e casebres rústicos e responderam com uma saravaida de flechas e pedradas.

Logo boa parte das naves murcharam e afundaram no lago, as restantes sofriam para encontrar espaço para aterrissar em meio a horda crescente de bárbaros cabeludos. As que conseguiram, abriam uma comporta traseira que liberava caminho para altivos guerreiros atlantes, alabardas em mãos e bestas presas nas costas. Alguns partiam para o combate corpo-a-corpo, onde demonstravam técnicas de luta muito superiores e jamais vistas na superfície, enquanto outros procuravam abrigos de onde poderiam disparar suas setas de ferro em segurança. Ainda assim, devido ao maior número de adversários e falta de conhecimento do terreno, a disputa era acirrada.

Mas os atlantes possuíam mais cartas na manga, na figura de veículos terrestres em forma de tripé que emergiam d'água, com um tripulante dentro e no comando de poderosos tentáculos de metal, dilacerando tudo no caminho. Do lago também surgiam plataformas repletas de lanceiros e atlantes montados em criaturas marinhas, com armas que disparavam um gancho preso a uma corda, assim como diversas outras máquinas hidráulicas terrestres e aéreas, tudo de uma beleza impecável, que enganava os olhos. Não pude ver se eram sólidas ou líquidas, parecia uma harmoniosa união entre uma coisa e outra.

A vitória se aproximava e eu sentia que os atlantes mereciam vencer por algum motivo, então um estrondo interrompeu a guerra e uma fumaça negra cobriu o ar, sufocando o punhado de bárbaros que haviam sobrado, fazendo-os procurar abrigo. Mas os atlantes encaravam o monstro, sem medo. O vulcão rugia, desafiador, exalando um vapor cada vez mais tóxico. Lava fétida escorria na direção do lago, e quando deram por si, os guerreiros do mar estavam cercados, uma vastidão de covardes apareceu do nada no momento em que se viram em vantagem. Lobos selvagens presos a correntes salivavam, assim como seus domadores.

E após um breve período de hesitação, onde cada um esperava a iniciativa do outro, uma voz melódica e de sabedoria infinita deu uma ordem. Descendo de uma gigantesca fera marinha similar a uma serpente, o rei sugeriu um acordo, que mais parecia uma rendição. Um velho enrugado e de tosse contínua concordou, sorrindo triunfante num esgar doentio. Assim a curta batalha se encerrou. Aparentemente o soberano atlante entregou sua coroa ao cacique dos homens, em troca, o velho moribundo deixaria os prisioneiros voltarem ao mar para proteger seus lares. Não houve despedida, muito menos lágrimas, apenas um curvar em uníssono que não parecia ensaiado. O filho primogênito do rei aceitou o tridente real e disparou uma corneta em formato de concha. Sem baixar a cabeça, o exército atlante voltou de onde veio, deixando o patriarca para trás. Os poucos bárbaros que se opuseram foram devorados por monstros marinhos antes de impedir a marcha dos guerreiros.

Por centenas de anos o antigo rei da última estirpe de uma nobre raça ajudou os humanos a evoluir, lhes ensinando a escrita e tantos outros dons, e durante
todo esse tempo permaneceu acorrentado. Quando a última horda de exploradores deixou o local, o chefe decidiu soltá-lo, uma vez que ele não tinha mais uso. Orfão de seu povo, o rei transformado em escravo permaneceu no desfiladeiro, onde viveu por mais alguns séculos, vendo o mundo mudar por meio de sua visão quase sem limites. Ele viu o mesmo povoado que lhe abandonou conquistar outro povoado e assim por diante, até a criação do império e sua quietude mais selvagem que qualquer vila de bárbaros. Acabou morrendo de inanição certo dia, decepcionado, pois apesar de ter oferecido imensa sabedoria aos homens, a arte da guerra foi a única coisa que aprenderam.

Assim eu vi desaparecer a raça original daquele mundo, para nunca mais voltar.